sexta-feira, 7 de outubro de 2011

A mercantilização da vida

Ao longo da história sempre existiram modismos e regras culturais, porém eram circunscritos a regiões – as perucas empoadas e punhos de renda na Europa, enquanto no Japão se usavam quimonos e os nativos americanos usavam roupas e tinham hábitos completamente diversos. Hoje com a globalização dos meios de comunicação e da economia a cultura de massa ganhou momento e está permeando a humanidade.
O attire homogêneo dos jovens é T-shirts com calças arriadas mostrando o underwear tanto aqui, quanto na Europa, nos Estados Unidos e na Ásia. A customização está ligada diretamente a resultados financeiros – empobrecer as opções básicas (custos baixos) e fazer combinações delas para oferecer ao cliente, com aparência de diversidade (lucros altos). Assim aconteceu com companhias aéreas, que usam ‘hubs’ onde concentram a grande maioria dos voos em detrimento dos usuários e, muito pior, na área de alimentos hoje há cinco commodities básicas dominando toda a produção global, quando haviam dezenas e dezenas no início do século 20 em produção local, para as populações locais. Essa ação visa mercantilizar todas as relações, como se o aspecto monetário e utilitarista fosse o centro da vida. Apoiado em um discurso absolutamente falso,  esse sistema produtivo está causando o que se chama em biologia de erosão genética (via homogeneização da produção, transgênicos, etc.),  em economia concentração econômica, em termos sociais mais pobreza e fome no mundo. Em termos de vida psicológica é a alienação e cultura de massa.
Não vejo esse aspecto socioeconômico utilitarista seccionado da alienação individual, por que essa influência das grandes empresas e do sistema financeiro na sociedade cria opressão e uma ideologia alienante incutida nas mentes via meios de comunicação, os big brother da vida, etc. Ao contrário, acredito que estejam intimamente relacionados. Lembrei da frase do Millor que dizia: “todos nascem um original e morrem uma cópia”.
Ter uma ação e expressão autônoma com relação a tudo isso, na dimensão do indivíduo, não se consegue com minutos de sabedoria, lendo Paulo Coelho ou frequentando vivências, fazendo renascimento, fischer-hoffmann e atividades do tipo.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Occupy Wall Street e a revolta no mundo árabe

O que pode haver de comum entre a revolta no mundo árabe e o movimento Occupy Wall Street que já conta com milhares de participantes? Pode ser a sincronia dos tempos de mudança, quando as pessoas começam a perceber mais claramente uma situação injusta e começam a se movimentar para muda-la.
É interessante e reconfortante notar que não é somente nos países totalitários assumidos mas também nas falsas democracias que isso está acontecendo. Os Estados Unidos se intitulam de democracia, mas na verdade o que existe lá é uma ditadura do capital, que sufoca a política, a economia e quer manter o cidadão comum no escuro.
Claro que há diferenças entre os Estados Unidos, os países árabes e vários outros regimes totalitários, mas a economia baseada em guerra e exploração das outras nações tem seu preço e um dia a conta vem. Está sendo cobrada, via crises, descenso e agora movimento popular. Ouvi uma manifestante dizer o que motivou meu trabalho de conclusão de curso de graduação em administração, na área de sustentabilidade: Se os recursos são escassos, como podemos viver em um modelo socioeconômico que prega o crescimento constante? Contradição básica.
Como podemos ter livre concorrência quando as grandes multinacionais criam cartéis e monopólios?  Como podemos ter democracia se as leis, regulamentos e decisões políticas são subordinadas ao interesse financeiro do capital?
Nesse sentido vale a pena conhecer a obra do sociólogo Guerreiro Ramos, com fundamento em Husserl e Heidegger, propõe a redução sociológica como assimilação crítica da produção sociológica estrangeira, redução sociológica como atitude que permite o indivíduo transcender, no limite do possível, os condicionamento circunstanciais que atrapalham sua expressão livre e autônoma, e redução sociológica como sociologia que tem ação no mundo e inova. Ramos entende o mundo e o homem como uma unidade, sendo as separações em setores como se houvessem realidades estanques sem ligação como o todo  é o que impede uma visão plena da realidade. É lúcido.
A partir disso Alberto Guerreiro Ramos propõe uma teoria de múltiplos centros, onde a centralização no modelo monetarista que quer mercantilizar todas as relações seja transformada. Critica Hobbes e Adam Smith e outros autores clássicos. Os múltiplos centros podem ser considerados como o político, social, ambiental e econômico, como tendo voz nas decisões e políticas públicas.
É clarear a confusão que existe entre crescimento e desenvolvimento, como bem explicou Ignacy Sachs.